Mangaball #01 — Giant Killing, o mangá mais realista de futebol

Marcus Arboés
6 min readMar 25, 2021

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Esse é o primeiro texto de uma série de textos que vou publicar mensalmente falando sobre animes e mangás envolvendo esportes, chamado “Mangaball”, onde irei juntas minhas duas maiores paixões.

Os mangás ajudaram o futebol a se popularizar no Japão, mas um deles tem algo especial. Giant Killing mostra todos os ambientes que envolvem a modalidade, do treinador ao torcedor.

Imagem: Kodansha/Reprodução.

Giant Killing é um mangá sobre futebol, mas é um pouco diferente da proposta de Super Campeões e, apesar de ter recebido uma animação em 2010, não chegou a vir ao Brasil e sequer se popularizou muito no Japão, além de ter sua serialização cancelada para televisão.

Isso aconteceu por que, diferente de outros mangás/animes que tratam do futebol, o foco de Giant Killing não está especificamente na emoção do jogo em si, mas sim em tudo aquilo que está em volta do futebol, dentro e fora das quatro linhas.

Essa diferença está basicamente no gênero. Enquanto o público-alvo de Super Campeões é shounen (juvenil masculino), o de Giant Killing é seinen (adulto masculino). O que mais diferencia os dois gêneros é a linguagem utilizada e, por isso, a animação não teve o mesmo sucesso que o mangá.

Até hoje, Giant Killing segue sendo serializado pela publicação semanal da Kodansha. Mas afinal, do que se trata essa história? Decidi trazer pra vocês tudo o que é abordado no mangá!

Tatsumi Takeshi e seus jogadores. Imagem: NHK/Reprodução.

O treinador

A história do mangá começa com um tradicional time de Tóquio, a capital japonesa, o East Tokyo United, em uma má fase. Eles recentemente escaparam de um rebaixamento e os diretores do clube decidem fazer algo arriscado, trazer um ex-ídolo de volta, agora como treinador.

Tatsumi Takeshi foi o principal jogador da história do clube, tendo dado muitas glórias, mas ele é odiado por muitos torcedores por ter aberto mão de continuar no clube e ir jogar num clube não muito expressivo da Inglaterra. Lá, ele rapidamente se lesionou e encerrou a carreira.

Então, anos depois, ele se reinventou como treinador e conseguiu fazer um time inexpressivo, montado com cidadãos locais, avançar muito na FA Cup, da Inglaterra. Lá, os agentes do East Tokyo United o convencem a voltar.

O que o tenta a retornar para Tóquio é o mesmo que o levou a um time inexpressivo como jogador: a vontade de “matar gigantes”, trabalhar em um time menor para superar aqueles que são melhores ou favoritos.

Como treinador, Tatsumi gera muitos desconfortos na imprensa, na torcida, nos seus jogadores e nos outros técnicos do país. Em campo, seu time sempre se adapta ao adversário e ele lida muito bem com as situações de jogo, mas nem sempre sai vitorioso.

Capa do volume 17 do mangá de Giant Killing. Imagem: Kodansha/Reprodução.

O time do East Tokyo United

Diferente dos outros mangás populares que envolvem colegiais e adolescentes, Giant Killing foca em jogadores adultos e profissionais tendo de lidar com tudo aquilo que atletas precisam realmente lidar na carreira. Nisso entra: disputa por posição e vaga de titular, lesão e recuperação de lesão, lidar com má fase, treino para aperfeiçoar alguma característica, problemas extracampo, rivalidade com atletas de outras equipes e muito mais.

Pra mostrar tudo isso, Masaya Tsunamoto, o autor do mangá, recheia o elenco do time com vários perfis diferentes de atletas. O E.T.U. é uma mistura de jogadores experientes remanescentes da última temporada e de jovens novos atletas que estão buscando espaço, cada um com uma personalidade específica bem traçada.

A direção do clube

Essa parte é mais sucinta, mas é mostrado como funciona o trabalho dentro de um clube com poucos recursos e como os dirigentes precisam lidar com situações adversas, tornando o East Tokyo United uma verdadeira unidade.

Alguns outros funcionários são apresentados durante a trama: a assessora, fazendo mil e uma coisas o tempo inteiro e até mesmo o olheiro do time, tentando trazer novos talentos pra equipe e mostrando como funciona o scout.

Skulls, torcida organizada do East Tokyo United. Imagem: NHK/Reprodução.

A torcida

No início da história, a única torcida ativa do time é a organizada “The United Sulls”, que cobra ofensivamente a diretoria e discorda muito da contratação de Tatsumi. Além de mostrar o núcleo deles e todos os problemas que torcidas organizadas têm, há muito mais.

O retorno de Tatsumi Takeshi chama a atenção de um antigo torcedor, esse já mais velho, que começa a reunir os seus amigos dos “bons tempos” para voltar a acompanhar e torcer. Enquanto isso, o filho mais novo desse torcedor, que joga nas categorias de base do E.T.U., tenta formar uma torcida organizada mirim com os seus amigos.

A imprensa

Apesar de passar despercebida por muitos fãs, essa é minha parte preferida, principalmente por eu estudar jornalismo. Aqui, se foca muito mais em uma personagem específica, que é setorista do East Tokyo United, que depende muito que certas coisas aconteçam pra que o trabalho dela funcione. Há um fotógrafo que vez ou outra interage com ela e tem lá os seus momentos, até mesmo aprendi algumas dicas lendo o mangá.

Um dos personagens brasileiro da série de mangá e anime (Imagem: Reprodução / NHK)

O futebol japonês

Além de tudo o que é muito bem apresentado pelo mangá, o que mais pode se destacar diante de outros títulos japoneses sobre futebol, é como Giant Killing realmente explica muito sobre como a modalidade é praticada no Japão.

Todas as competições são reais e, por causa dos direitos reservados, cada um dos times tem um nome alternativo. Cada detalhe da J-League e de outros torneios é muito minucioso, além de, durante o jogo, algumas regras e lances serem explicados.

Outro detalhe interessante é o fato de terem vários jogadores estrangeiros, como realmente é visto no país. E muitos, muitos mesmo, deles são brasileiros. Em vários times há brasileiros e eles sempre são bem característicos.

A seleção olímpica também é trabalhada num ponto mais futuro da série, mostrando gradualmente como funciona o monitoramento do treinador e a cultura japonesa de convocação, que é bem diferente da nossa.

Para entender melhor isso e todos os outros detalhes, você realmente precisa ler e descobrir a magia de Giant Killing. É uma situação cativante, que presenteia o leitor com uma experiência diferente.

Enquanto outros mangás e animes de futebol vão te passar a emoção do jogo, Giant Killing te oferece o universo do futebol, mesmo não ficando pra trás no quesito emocional. Enquanto os outros mangás ajudam na popularização do esporte e no entretenimento, Giant Killing é um mangá para quem é fã, entusiasta do futebol.

Mesmo com a abordagem mais adulta, é uma experiência divertida e acessível, que com certeza vai te fazer imergir e simpatizar — ou não -, com cada personagem que faz o East Tokyo United acontecer.

Me siga no twitter: @marcusarboes

Texto também publicado no Ludopédio.

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Written by Marcus Arboés

Aqui é um pouco de mim, sem amarras. Falo do que me empolga.

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