Mestrando RPG para crianças
Muitos de nós começamos a jogar RPG de mesa na infância. No meu caso, jogo RPG desde que me entendo por gente, já que meu irmão mais velho sempre gostou de juntar os menores para fazer aventuras das quais consigo me lembrar até hoje, com muito carinho.
Nós crescemos com essas aventuras, aprendemos como os sistemas funcionando, amadurecemos e até começamos a sermos os mestres. Nisso, nos tornamos adultos e, então, viramos pais ou irmãos mais velhos.
Eu não sou pai, mas me imagino narrando aventuras fantásticas para os meus filhos no futuro e acredito que muitos já o façam. Por isso, decidi fazer esse texto para todos os pais, tios, irmãos mais velhos ou até membros de projetos que desejam um norte para jogar RPG de mesa com crianças.
Como eu não tenho tanta experiência, decidi pedir a ajuda do meu irmão mais velho, Patrício, que citei no início do texto. Jogar RPG com ele desde os 4 anos de idade foi importante para a minha educação — e esse é o primeiro ponto do qual decidi tratar.
- O RPG é uma ferramenta incrível para a educação das crianças
Antes de pensar em jogar RPG com os pequenos, é importante você entender do que servirá aquilo para eles. Crianças gostam de se divertir com jogos, mas há ali uma grande oportunidade para você passar vários ensinamentos a eles.
Como pais e responsáveis, adultos passam valores morais que crianças precisam aprender para viver corretamente em sociedade. No RPG, há espaço para você criar dilemas, onde elas podem ter algum aprendizado. Meu irmão citou um exemplo, onde ele criou uma situação específica para que nossa irmã (de 7 anos) entendesse que ela não poderia simplesmente sair matando pessoas só por elas serem más. Nesse caso, vai de educador para educador.
Além disso, há perícias básicas que podem ser estimuladas: matemática (influenciando eles a calcularem seus dados), leitura (faça-os abrirem os manuais e lerem durante as aventuras), escrita (oriente-os para escreverem suas próprias fichas e histórias, não negue ajuda!), e muitas outras, como probabilidade, interpretação, raciocínio lógico…
Para que essas crianças assimilem tudo isso, é interessante que você consiga divertir elas durante o processo, por isso, é muito importante estimular a imaginação dos jogadores e saber como passar todas as informações e lidar com eles: - Imaginação e boa linguagem são as chaves para um jogo divertido
Crianças gostam de imaginar e criar, e você não pode tirar isso delas se quer que elas gostem do que estão fazendo. Eles querem ter poder sobre as aventuras que estão jogando e imergir naquele mundo, então dê poder a eles.
Para isso, uma dica interessante é você influenciar as crianças a desenharem seus personagens e itens dos jeitos que elas os visualizam, no início e durante a aventura. Além disso, é importante tornar possível que eles criem essas imagens na mente, usando o máximo de recursos visuais, como mapas, imagens, tesouros e etc. Essa é uma das funções da linguagem.
Além de ser responsável por tornar a aventura visível, uma boa linguagem vai envolver a criança com o jogo. Use termos que crianças entendam, como uma linguagem simples, e, obviamente, evite usar palavrões e qualquer outra termologia adulta. Afinal, a ideia é divertir seus jogadores.
Divertir? Claro, crianças jogam algo para se divertir, como dito lá em cima. Enquanto adultos e adolescentes se divertem com mortes numa dungeon, as crianças querem rir, então uma dica infalível é usar alívios cômicos.
Nisso entra algo importante, os finais felizes. A expectativa deles é de que a aventura termine bem e todas as perguntas sejam respondidas no final. - Escolha bem as temáticas e os sistemas.
Com base no que foi falado no ponto anterior, dá para perceber que você não pode usar “qualquer coisa” que você quiser para entreter crianças. É importante que você evite temas maduros como sexo, narcóticos, violência e afins. Foque em algo que seja emocionante e divertido.
Uma fantasia medieval, por si só, já é um cenário que crianças gostam de se imaginar nas brincadeiras, com itens mágicos e seres fantásticos, mas algo que eu gostava bastante quando menor, e creio que muitas crianças gostem, é jogar num cenário que já existe. Como assim? Sabe aquele desenho, anime ou jogo que seus filhos adoram? Entenda como é o universo e narre uma aventura nesse mundo, permitindo que eles se sintam dentro.
Essa é uma ideia bem legal, mas alguns sistemas não permitem que funcione. Shadowrun e D&D são muito completos, mas algo complexo talvez não seja bom para deixar o jogo dinâmico e divertido.
Falando em sistemas de RPG, é bom apresentar os que recomendo para jogar com crianças, justamente pelo tema ou pela simplicidade:
- Hero Kids (você pode ler mais sobre ele clicando aqui)
- Calisto
- RPG Quest (apropriado para crianças)
- Mouse Guard
- Tails of Equestria (RPG de My Little Pony. Leia sobre clicando aqui)
Além desses, há o meu favorito, que joguei a vida toda: 3D&T. O motivo é simples: os cálculos são básicos e esse sistema permite que você crie uma aventura de qualquer cenário que você imaginar. Além disso, já existem adaptações de 3D&T para vários cenários que crianças possam gostar: Pokémon, Naruto, Harry Potter, Dragon Ball Z…
É muito legal você lembrar que a premissa básica do RPG é interpretar um personagem em um cenário. Os dados te ajudam a ditar os rumos e o sistema te ajuda a regulamentar e equilibrar o jogo, mas isso nem sempre será necessário para que o RPG consiga entreter os pequenos.
Independente de tudo o que foi dito, reflitam sobre o que irão fazer ou falar na hora de introduzir uma criança nesse meio. Sabemos que RPG é algo incrível e queremos que elas gostem, certo? Como pais, irmãos mais velhos, tios, tutores, seja lá o que sejamos, é importante termos responsabilidade com as pequenas mentes brilhantes e deixarmos elas criarem!
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