O dia em que fotografei a Final da Copa do Nordeste

Marcus Arboés
6 min readNov 24, 2019

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Foto: Marcus Arboés

O ano de 2019 está sendo muito importante para mim. Realizei vários sonhos e comecei a alcançar algumas metas.

Muito disso aconteceu desde que passei a levar fotografia a sério e até a ganhar dinheiro com isso, e, outra parte, de eu ter entrado no Futebol Interativo como diretor de arte.

No finalzinho de Maio, viajei com o pessoal do FI para a Paraíba, onde lançaríamos um evento na área do futebol e tínhamos a ideia de divulgá-lo durante a final da Copa do Nordeste, entre Botafogo-PB e Fortaleza.

Tentei não criar muito anseio sobre aquele momento, eu tinha que trabalhar, mas no hotel, eu não conseguia deixar de pensar “será que vou conseguir fotografar o jogo?”.

Para mim, a ideia ainda era bem surreal. E realmente era algo incerto. Meu chefe, George, me disse que tentaria me colocar para o gramado e que eu iria fotografar o jogo.

Quando estávamos no carro, pegando trânsito para chegar no estádio Almeidão, onde aconteceria o jogo, fiquei calado, tentando me concentrar na música que eu estava ouvindo, imaginando se daria certo e deixando a expectativa tomar conta de mim.

Do estacionamento, olhei para o estádio iluminado e barulhento, parecia, de longe, ser algo grande de mais para mim. E eu não estava enganado.

Depois de muita dificuldade e burocracia, recebi o meu colete de imprensa para poder ficar no campo.

Com a câmera na mão, subi as escadas e fui chegando no campo. Aos poucos, a imagem do estádio lotado, a estrutura de abertura da final, a taça “orelhuda”… tudo estava na minha frente.

Foto: Marcus Arboés

Fotógrafos que eu seguia no Instagram, pessoas de terno, profissionais com equipamentos absurdos, uma gama de repórteres de vários lugares diferentes do Brasil.

Nessa hora, eu me senti pequeno.

Eu já tinha fotografado jogos de times grandes, como Bahia x Santa Cruz de Natal, do América e do ABC, mas nunca tinha presenciado algo daquele tamanho, daquela magnitude.

Senti um arrepio, dei uma desembaçada no óculos com a camisa e respirei o vento forte.

De repente, do meu lado, eu vi o treinador do Fortaleza, Rogério Ceni.

Rogério Ceni foi goleiro do São Paulo, time para o qual meu irmão torcia. Não parecia verdade que ele estava ali, dando uma ou outra instrução para seus jogadores, pessoas que eu só via pela televisão e que, para mim, estariam bem distantes da minha realidade.

Foto: Marcus Arboés

Tentei não ficar impressionado demais e comecei a testar a câmera, durante o aquecimento. Do meu lado, ouvia um fotógrafo com um equipamento de 30 mil reais reclamando da iluminação.

A câmera dele com certeza tirou boas fotos daquele jogo, mas a minha, de iniciante, não estava dando conta do recado, porque a iluminação do estádio não compensava dentro do gramado.

Antes do jogo começar, saí arrodeando o campo e tirando fotos da festa da torcida do Botafogo e dos torcedores que saíram de Fortaleza para torcer pelo seu clube.

A festa da torcida do Botafogo-PB (Foto: Marcus Arboés)

Era tudo muito bonito, todos cantavam bastante.

Procurei um espacinho atrás do gol para onde o Fortaleza atacaria, mas acabei ficando numa posição não muito privilegiada.

Apesar de estar ali, na final da Copa do Nordeste, eu comecei a me frustrar. As fotos não estavam dando certo e, para piorar, começou a chover. Eu estava sem banco para sentar e sem capa para proteger a câmera.

Deixei o jogo de lado e fui fotografar alguns torcedores do Fortaleza. Talvez essa tenha sido a minha melhor decisão naquela noite.

Quando eu fotografava, notei os olhos dos torcedores me esquecendo e se voltando para o campo. Eles começaram a arregalar os olhos e a levantar os braços, eu não tinha dúvida: o Fortaleza tinha acabado de marcar um gol.

Foto: Marcus Arboés

Eles vibravam, e eu clicava. Tirava foto da emoção daquelas pessoas que, assim como eu, estavam vivendo aquela final.

Quando me virei para procurar a comemoração, fui agraciado com o poder da sorte. Wellington Paulista vinha correndo na direção dos torcedores que eu fotografava. Comecei a fotografá-lo correndo e aquilo foi sensacional, principalmente por ser ele fazendo um gol.

Minha admiração por Wellington Paulista começou em 2016. Naquele ano, ele vinha de uma má fase, mas conseguiu marcar quatro gols numa goleada da Ponte Preta sobre o Água Santa, pelo Paulistão.

O vídeo dele chorando ao ouvir a sua mãe (https://globoplay.globo.com/v/4932435/) dizer que “sabia que ele ia conseguir” mexeu comigo, vi aquilo na TV e nunca me esqueci. Aquilo me motivava, fazia eu me lembrar de quando minha mãe ia ver meus jogos, quando eu era criança.

Foto: Marcus Arboés

De repente, tudo veio na minha mente, e parecia ironia do destino. Eu estava fotografando um dos jogadores brasileiros pelos quais mais tenho apreço vibrando um gol de título.

Eu já tinha ganhado a minha noite com aquelas fotos.

Mas ainda estava difícil. Chovia e eu tinha que me preocupar mais em proteger meu equipamento e ajeitar a postura, já que eu estava de joelhos, do que com o jogo.

O tempo foi passando, o Botafogo não conseguia empatar o placar e, de minuto em minuto, o Fortaleza comemorava o título da Copa do Nordeste.

Enquanto os jogadores iam rumo a torcida, me preocupei em pegar um bom lugar perto da estrutura onde eles levantariam a orelhuda.

Fiquei ali, pacientemente esperando, até que os jogadores foram subindo de um em um e Marcelo Boeck, goleiro e capitão do Fortaleza, levantou a taça.

Acho que hoje, independente das condições e da qualidade, essa é a minha melhor e mais incrível foto.

Foto: Marcus Arboés

O goleiro levantando a taça com o chapéu de lampião, a braçadeira de capitão, vibrando, gritando, entornado pro vários braços levantados dos seus companheiros de equipe.

No final da comemoração do título, eu estava absurdamente cansado, com fome, sede e fraco, iria adoecer dias depois por causa daquela chuva que peguei no jogo, mas valeu a pena.

Lembro de estar na calçada conversando com o pessoal sobre como foi a experiência deles e de sentir que beber água era a melhor coisa do mundo.

O filme passou na minha cabeça.

Eu comecei a fotografar no final do ano passado. Na primeira tentativa, em um jogo fut7, tirei 60 fotos e 4 prestaram. Sete meses depois, eu tinha fotografado a final da Copa do Nordeste.

Parecia irreal, e, apesar disso, não senti que aquilo era grandioso. Senti que era só um degrau, um começo.

Eu poderia ter feito muito mais com um equipamento melhor, com mais experiência. Queria me comparar não só com os fotógrafos da minha cidade, mas com aqueles outros que vi naquele dia.

Se sentir pequeno diante de um universo novo foi uma das experiências mais ricas que eu tive nesse ano.

Sou muito grato ao Futebol Interativo por estar lá e ao Universidade do Esporte por ter me encorajado a fotografar.

Um título daquela música que eu escutava no carro, antes do jogo, dizia “você é do tamanho do seu sonho”. Ali, depois do jogo, eu só conseguia pensar naquilo, na minha frase preferida, e no que ela realmente significava para mim.

Eu quero ser grande, então eu tenho que sonhar grande.

Tenho que projetar grande. Fazer grande.

E é isso que me move.

Capa de Você é do tamanho do seu sonho — Vandalism81

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Written by Marcus Arboés

Aqui é um pouco de mim, sem amarras. Falo do que me empolga.

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