O homem para quem ninguém ligava

Marcus Arboés
2 min readOct 21, 2019

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Ele sempre esteve lá.

Quando vocês se sentiam sozinhos e tristes por causa dos seus problemas, ele tinha as melhores palavras pra confortar vocês e um ombro pra assegurar a dor.

Sempre conveniente e disposto a ajudar, sem nem pensar duas vezes. Ligava, mandava mensagem, ficava acordado até tarde para dar seus abraços calorosos e confortantes em forma de companhia, por mais que não fosse tanto.

Ainda que parecesse sempre alegre, radiante e positivo, ele sentia dor, mágoa, angústia e muitas outras coisas. Ele sempre quis compartilhar isso com vocês, sempre achou que pudesse ter um pouco de casa. Mas foi ingênuo de esquecer que o ser humano não se importa.

Ele pensava em como vocês estavam se sentindo, se estavam seguros, sorridentes ou tristes. Sempre preocupado, cogitando se deveria falar ou não, já que tudo o que vocês faziam era torná-lo um estranho numa construção imagética através de vazios.

Ele se afundou sozinho na própria risada falsa de que estava tudo bem, como sempre falava, mesmo que para ninguém .

Cada um tem seus motivos para serem o vazio do outro. Ser o vazio de alguém parece ser quase inevitável na sociedade em que vivemos. Não nos importamos, nós realmente não damos a mínima relevância e não temos uma gota de responsabilidade emocional.

Quem se importa de verdade sempre pensa, sempre fica. Não fica fingindo pro outro que sente algo, quando não tá dando pelo menos 10% do valor que o outro te dá. Nós tornamos os outros insuficientes para nós e só esperamos mais sem dar.

É isso que nós somos. O vazio dos outros. Vocês são o vazio do homem para quem não ligam.

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Marcus Arboés
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Written by Marcus Arboés

Aqui é um pouco de mim, sem amarras. Falo do que me empolga.

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