O que aprendi com os cavaleiros de bronze

Marcus Arboés
5 min readOct 22, 2019

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Na última semana um dos animes favoritos da minha vida inteira entrou no catálogo da Netflix. Saint Seiya voltou para a alegria dos fãs que se decepcionaram com a última versão do anime lançada na plataforma, mas ainda resultou numa série de críticas, que renasceram, mais num cenário internacional do que no brasileiro.

Boa parte dos julgamentos caem em cima do fato de que partes do anime são muito mal animadas e que muitos diálogos são mal feitos, desconsiderando que era um anime feito para crianças. Ainda assim, não vou entrar nesse mérito, Saint Seiya tem vários problemas.

O que tornou Os Cavaleiros do Zodíaco um anime mágico para mim, para os meus irmãos e para muitas crianças e adolescentes no mundo inteiro, foram as lutas épicas e heroicas, principalmente, e os ensinamentos e valores que cada cavaleiro e cada batalha nos transmitia.

Cada um dos cavaleiros de bronze me apresentou algum(ns) valor(es) na sua personalidade, o(s) qual(is) carrego até hoje na minha formação como homem e ser humano.

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SEIYA DE PÉGASO:
Seiya foi o primeiro cavaleiro preferido da infância. O herói. O vermelho. O destemido. Seiya é um dos cavaleiros que eu mais passei a detestar durante a adolescência, mas eu não conheci ele com 14 anos.
Conheci Seiya de Pégaso na época em que perdi o meu pai. Conheci um cavaleiro que não tinha medo dos adversários gigantescos e que nunca desistia de lutar pelas pessoas quem amava e pelo lado do bem.
Seiya sempre se machucava tanto, apanhava, sofria e conseguia acreditar em si mesmo para vencer.
Ele ensinou para um menino medroso e inseguro de cinco anos de idade que não importava quantas vezes caísse, sempre havia uma maneira de superar aquilo que parecia me machucar.
Incrível como esse é um valor tão marcante durante toda a minha vida, por mais que eu ache Seiya um pé no saco, carrego parte do heroísmo sentimentalista dele no meu coração até hoje.

SHIRYU DE DRAGÃO:
Não demorou muito para eu me identificar com o meu personagem favorito da infância. Quando eu tinha 7 anos, meu irmão me perguntou por que eu estava deixando o cabelo crescer, eu disse que queria ter um cabelo grande como o Shiryu.
O Dragão era o guerreiro mais sábio dentre os cinco protagonistas. Ele sempre procurava saber mais e tentar entender os seus oponentes, com frases fortes. Provavelmente em uma dessas lutas, em que fala demais, como contra Fenrir e Alberich (Asgard) e Algol de Perceu, Shiryu me conquistou.
Se o heroísmo, o sonho e a persistência estavam com Seiya… a honestidade, a honra e o sacrifício vieram de Shiryu.
Um traço que falta muito na nossa sociedade é a honestidade. O brasileiro é acostumado a trapacear e tentar se dar bem em cima dos outros. Com certeza minha mãe me ensinou que isso era errado. Muitas vezes Shiryu foi tido como bobo por ser tão bonzinho, mas ele sempre deu o jeito dele.
A honra do Dragão sempre esteve intacta. Nunca feriu o seu ser humano bondoso por causa da maldade presente no mundo de guerras em que habitava.
Honra o suficiente para sempre estar se sacrificando em prol de um bem maior. Perdi a conta de quantas vezes eu fiquei tocado pelo fato de Shiryu cegar os próprios olhos em alguma batalha ou de quando ele levou Capricórnio aos céus, contando com a própria morte várias vezes no anime todo.

HYOGA DE CISNE:
Eu não criei um vínculo muito forte com o Hyoga, até por ele ser um personagem autenticamente metido, que parecia se achar a última coca-cola do deserto. No entanto, ele tinha algo com o qual sempre me identifiquei.
Todos os cavaleiros eram órfãos, mas só Hyoga tinha a mãe sendo sempre mostrada. Se você viu os cavaleiros quando criança e não lacrimejou nas cenas do Hyoga falando “mamãe!” com aquela musiquinha de fundo, seu coração é o próprio zero absoluto.
Hyoga tinha perdido alguém, como eu. Eu me imaginava sendo um cavaleiro que sempre batalharia pensando em alguém que eu havia perdido muito cedo, como ele.
Depois de um tempo, notei que havia outro traço que me marcava bastante. O fato de Hyoga ter superado os seus mestres. Sempre admirei isso de alguma forma e guardei para o meu futuro. Tudo que aprendo, tento desenvolver o suficiente para alcançar aquele que me ensinou.

SHUN DE ANDRÔMEDA:
Brincar de ser o Shun era sinônimo de piada, por ele ser alguém frágil e delicado e sempre precisar da ajuda do irmão mais velho. Na minha infância, por mais que eu quisesse ser forte, sempre precise da ajuda dos meus irmãos e até hoje conto com todos eles pra muitas coisas, e, amadurecendo, a gente nota que isso não é um motivo para se envergonhar.
Shun fez eu sentir que eu não precisava ter vergonha da minha fragilidade, que mesmo tendo medo e vontade de chorar, eu poderia ter algo bom e poderoso dentro de mim que me tornaria mais forte até mesmo que aqueles que me protegiam.
Parecer uma garota não era um problema. Eu não era menos que os outros por ser chamado de menininha e, quando eu via o Shun, eu pensava em como ele quebrava julgamento e era o mais poderoso dentre os guerreiros de bronze de Atena.
Outro valor importante que aprendi com Andrômeda foi a busca pela paz, e nisso ainda preciso lutar muito. Olhar sempre para o lado bom e tentar seguir nele, como Shun, foi algo que tentei muito durante a adolescência, mas nem sempre consegui. Ainda preciso evoluir nisso.

IKKI DE FÊNIX:
Fênix, o cavaleiro da redenção que sempre aparecia nos momentos mais difíceis para ajudar. A solidariedade de Ikki é marcante, por mais que ele pareça frio e duro, no momento difícil ele sempre dará um jeito de ajudar os cavaleiros e os indefesos, por ser tão forte e incrível.
Quem mais Ikki ajudava era Shun, seu irmão mais novo. Desde cedo aprendi com ele que eu deveria proteger o meu irmão mais novo. Foi muito do meu ser na infância estar sempre tendo um senso de proteção gigantesco com meu irmão caçula, de ter medo que ele sofresse ou se machucasse.
Perdi a conta de quantas vezes olhei para ele e nos comparei a Ikki e Shun, quando algum menino mais velho mexia com ele e eu rangia os dentes de raiva para comprar a briga.
Talvez hoje eu esteja me tornando mais Ikki do que nunca. Me fechando para o mundo e tentando enxergá-lo de maneira mais realista, de forma que eu tome as melhores decisões, sem pensar apenas de forma passional (por mais que eu seja muito).

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Além de tudo isso, eu aprendi muito mais com os cavaleiros do zodíaco. Aprendi que chorar não me torna mais fraco, que grandes guerreiros também podem ter emoções. Aprendi a amar os meus amigos e reconhecer o esforço deles. Aprendi a perdoar aqueles que me fizeram algum mal. Aprendi a dar uma segunda chance para os que merecessem. Aprendi valores importantes, como o de que uma mulher deve ser respeitada e de que a vida e a segurança de toda criança é uma prioridade. Aprendi muito… e com certeza sempre vou estar aprendendo mais.

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Marcus Arboés

Aqui é um pouco de mim, sem amarras. Falo do que me empolga.