O que há de especial no Red Bull Salzburg?
Amanhã é a rodada definitiva do grupo E da UEFA Champions League. E quem vem surpreendendo nesse grupo da competição é o Red Bull Salzburg, que está na terceira colocação, com 7 pontos, atrás de Napoli (9) e Liverpool (10).
A missão de passar de fase é bem difícil. Será necessário vencer o melhor time do mundo e, talvez, precisar torcer para um tropeço do Napoli diante do já desclassificado Genk.
Ainda assim, é impressionante ver um time austríaco ter esse poder de enfrentar Liverpool e Napoli de igual para igual, mas, com certeza, não é algo que começou de agora.
Já fazem seis temporadas que o RB Salzburg é campeão da Bundesliga Austríaca e, nos últimos anos, foi bem na Europa League. Nessas últimas temporadas, o Salzburg teve sua imagem ofuscada pelo RB Leipzig — time alemão que pertence à mesma empresa — , que esteve em ascenção recente.
A fase de grupos da Europa League do ano passado refletiu que o investimento e a evolução do time austríaco foi maior. A equipe começou a se consolidar e a fazer jogos incríveis, com números destacáveis.
Na Áustria, todo ano tem sido a mesma coisa. O Red Bull bate em todo mundo, bate mesmo. Desde o início dessa década, o Rapid Viena, o Austria Viena e outros clubes expressivos da Áustria começaram a perder seu espaço para o antigo Austria Salzburg, que, desde 2005/2006 se tornou posse da gigantesca empresa Red Bull.
O clube ficou ainda mais conhecido por causa das goleadas e jogos de destaque na atual edição da Liga dos Campeões, em especial, com os holofotes ligadíssimos para o artilheiro Håland.
No entanto, há quem se engane. Ainda que se fale muito da jovem estrela norueguesa, o esquadrão todo tem se destacado. É um time muito jovem, cheio de promessas de diferentes países. Há vários nomes que tornam o Salzburg especial.
O artilheiro prodígio espetacular
Sondado por gigantes europeus, como o Manchester United e o Borussia Dortmund, o jovem Erling Braut Håland, de apenas 19 anos de idade, tem se destacado na atual temporada como a grande estrela do clube austríaco. No entanto, seu sucesso atual tem perpassado também por competições europeias e mundiais.
No Mundial sub-20 desse ano, o jovem norueguês se tornou dono do histórico tento de fazer NOVE GOLS em uma única partida, na goleada de 12 a 0 sobre Honduras.
O gene de futebolista veio do seu pai, Alf-Inge Håland, zagueiro/volante norueguês que foi ídolo no Bryne — onde seu filho iniciou no futebol — e atuou no futebol inglês, com passagens por Nottingham Forest, Leeds United e Manchester City.
A carreira de Håland começou muito cedo. Aos 16, ele saiu do Bryne, da segunda divisão, para o Molde FK, equipe da primeira liga norueguesa. Lá, ele jogou 50 partidas e marcou 26 gols.
Na temporada 18/19, o jovem foi transferido para o RB Salzburg. Nesse primeiro ano de Áustria, marcou 5 gols e deu uma assistência, em 10 jogos. Uma boa média para um atacante de 18 anos.
Os números começaram a estourar nessa temporada. Ele tem os expressivos 28 gols e 7 assistências — sendo 8 desses gols anotados na UEFA Champions League — em apenas 21 partidas.
O talento que o faz ser considerado um dos principais centro-avantes da Europa no ano já fez com que alguns clubes o tenham no radar. O valor estipulado pelo transfermarkt é de 30,00 M €. A corrida para tê-lo já começou.
A joia africana de um país não tão conhecido
Nem só dos gols de Håland vive o Salzburg. Outro atacante que tem ido muito bem é o jovem Patson Daka, de 21 anos. Já são 16 gols e 6 assistências, em 24 jogos pela equipe na temporada.
Daka fez praticamente o caminho que a maioria dos jovens atletas fazem ao chegar no time da Red Bull. Foi trazido do FC Liefering (clube de formação da Red Bull), onde marcou 6 gols em 27 jogos, além de ter passado rapidamente pelo sub19 do RB Salzburg.
Seus números deram um grande salto, comparando com os da última temporada. Esse ano tem sido inacreditável para o atleta, que foi formado pelos clubes Nchanga Rangers e Power Dynamos, da Zâmbia.
Falando em Zâmbia, Patson Daka já soma 18 jogos e 2 gols pela seleção do país em que nasceu. A Zâmbia está no último lugar do grupo H nas qualificatórias para a Copa das Nações Africanas, e vê na joia a chance de passar de fase.
Pela seleção zambiana, ele joga ao lado do seu grande amigo Enock Mwepu, volante que também tem 21 anos e também é seu companheiro de equipe em Salzburg. Assim como Daka, Mwepu também passou pelo Power Dynamos e pelo Liefering.
Na imprensa local, não se fala tanto do seu nome. Só recentemente, quando ele foi o primeiro jogador zambiano a marcar na UEFA Champions League (contra do Genk) e por ter sido eleito o futebolista do mês de Novembro. Além disso, Daka é um dos indicados a jovem jogador africano do ano.
Um “Coronel” brasileiro assumindo a responsa no gol
Quantos goleiros brasileiros saem cedo do país para jogar fora? Esse é o caso de Carlos Miguel Coronel, goleiro reserva do Salzburg, de apenas 22 anos.
Até o momento, Carlos não havia tido um grande momento na sua carreira. Sempre pertenceu ao time austríaco e chegou a ser emprestado para jogar nos Estados Unidos, pelo Bethlehem Steel FC e pelo Philadelphia Union — onde ficou conhecido por ter feito uma defesa milagrosa com a perna.
Além disso, Coronel foi convocado, ainda bem jovem, para jogar o sul-americano sub-17 de 2013 pela seleção brasileira. Nessa época, ele fazia parte das categorias de base do RB Brasil. De lá, foi para o Leifering FC, clube de formação da Red Bull na Áustria.
Recentemente, num jogo contra o Napoli, pela Champions League, ele teve o dever de substituir o titular Stankovic, que se machucou. Aos 22 anos, estreou na competição europeia.
Nesse período de lesão do companheiro de posição, a equipe só perdeu um jogo de oito — para o Napoli. Dos jogos que participou, passou sem levar gols por dois.
Um craque japonês sem holofotes
Quando se fala em craque japonês, pensamos em Nakamura, Hideo Nakata, Honda e Kagawa. Atualmente, quem tem brilhado na seleção é o meia Shoya Nakajima, mas, ao lado dele, está o artilheiro da seleção — Takumi Minamino, de 24 anos.
Nessa temporada, muitos já devem ter ouvido falar de Minamino, principalmente se tiverem assistido Liverpool 4–3 RB Salzburg, pela Champions League. Quando os Reds venciam por 3 a 0, Takumi Minamino foi o responsável por guiar o empate do jogo. Fez um gol e deu uma assistência na partida.
Chamar a responsabilidade é uma das suas principais características. Ele faz gol, dá assistências, participa sempre ativamente do jogo, por ter uma presença como ponto focal do desenho tático. O mais impressionante, é como ele é multifuncional. Pode jogar como meia, ponta esquerda, direita, segundo atacante e centroavante.
Nascido em Osaka, já cedo ele defendeu as vestes do Cerezo, time da sua cidade. No primeiro ano de J-League, ele foi eleito o melhor jovem jogador da competição. Ficou só três anos atuando Japão, fez 17 gols e deu 9 assistências em 85 partidas.
Logo ele foi contratado pelo Red Bull Salzburg, e está lá desde 2015. Desde então, ele já jogou 198 partidas, fez 64 gols e deu 44 assistências. Na atual temporada, ele marcou 9 gols e deu 11 assistências, em 21 jogos.
Desde a época de Cerezo Osaka, já fazia seus gols pelas seleções de base dos samurais azuis. Passou por quase todas as categorias, chegando até a participar de uma Olimpíada, onde fez um gol.
Hoje, é o artilheiro da era Hajime Moriyasu. Dos 22 jogos pelo comando do treinador japonês, desde o período pós-copa de 2018, Minamino atuou em 20 e marcou 11 gols. Um deles, inclusive, foi um golaço contra a seleção uruguaia.
O coreano que deixou Van Dijk no chão
Jogador da Coréia do Sul? deixou o melhor zagueiro do mundo no chão e fez gol no Liverpool? Não, não é o Son Heung-min, craque do Tottenham. O outro asiático que vem chamando a atenção na Áustria é Hwang Hee-chan, atacante de 23 anos.
Ainda criança, Hwang obteve recordes consideráveis. Nascido em Chuncheon, ele foi para o mundo do futebol bem cedo. Durante a infância e a adolescência, jogou pela Singok Elementary School e nas equipes de base do Pohang Steelers. Na seleção coreana, jogou e jogou muito do sub12 até o sub18.
Em 2016, Hwang participou das Olimpíadas do Rio e chegou a fazer um gol. Ele participou também do Mundial de 2018, balançou as redes num amistoso contra a Polônia, mas durante a fase de grupos da competição, não marcou.
Apesar de ainda não ter se destacado muito na seleção principal, ele foi um dos heróis do ouro nos jogos asiáticos — aquela competição em que o Son conseguiu se livrar do serviço militar obrigatório — , quando fez o segundo gol na vitória sobre o Japão, na final.
O atleta chegou na Áustria em 2015, passou pelo clube formador da Red Bull (FC Leifering) e chegou a ser emprestado para o Hamburgo, da Alemanha, mas voltou para essa temporada ao Salzburg e tem jogado bem — marcou 9 gols e deu 14 assistências em 21 jogos, tendo 8 participações em gols pela Champions League.
Esse desempenho fez com que a atenção de clubes europeus fosse acionada. O Arsenal e o Crystal Palace já enviaram olheiros para observá-lo na Áustria, e Hee-chan pode ser novidade na Premier League em Janeiro.
10 anos de Salzburg, capitão e jogador da seleção austríaca
Muitos atletas de gigantes europeus se tornam capitães e ídolos ou ao menos ficam marcados por jogarem mais de 10 anos em um clube. Nessa temporada, fazem 10 anos que Andreas Ulmer é o lateral esquerdo do Red Bull Salzburg.
A braçadeira de capitão da equipe é carregada por um experiente lateral, que as vezes atua como meia-esquerda. São 10 títulos de Campeonato Austríaco e 7 da Copa local na rica bagagem.
O jogador iniciou no futebol em Linz, sua cidade natal, mas se formou como atleta no tradicional Austria Wien e, em 2009, foi transferido para o RB Salzburg. Estar a mais de 10 anos na equipe austríaca é simbólico, principalmente por ter feito parte da construção de um clube vencedor.
Ainda que seja um jogador de defesa, o camisa 17 tem muita participação ofensiva. Só nessa temporada, tem 5 passes para gol e 3 marcados. No total, em mais de 400 jogos pelo time, ele já marcou 21 e deu 81 assistências. No último jogo, ele atuou como meia e brilhou, dando dois passes para gol e deixando o seu.
O sucesso atual na equipe deu a ele espaço na seleção austríaca, mesmo aos 34 anos de idade. Com Alaba atuando como meia, ele tomou conta da lateral esquerda e se tornou titular nas eliminatórias.
Como jogou há muito tempo pela Áustria, tendo raras aparições nas convocações, ele nunca jogou uma grande competição pelo selecionado. Agora, terá a oportunidade de representar seu país na Euro 2020.
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Seria injusto falar do que tem de especial nesse time apenas citando esses destaques, pois há muitos outros jogadores que merecem ser mencionados aqui pela temporada excelente que vêm fazendo:
Os volantes consistentes e apoiadores, Mwepu e Juzonovic. O meia reserva Masaya Okugawa, que já marcou 7 gols e sempre entra bem. O goleiro titular, Stankovic. O jovem promissor zagueiro Wober, o meia Szosboszlai e o atacante Sekou Koita, que está machucado.
Esses nomes são reflexo de uma grande mistura étnica. Num país marcado por uma herança racista, um time formado por asiáticos, negros, afrodescendentes e brasileiros é a grande potência dentro de campo.
De acordo com os dados, há três asiáticos no elenco e seis africanos, isso sem contar com outros quatro afro-ascendentes, que estão emprestados. Confira os dados plantel atual:
Austria: 6
Zâmbia: 2
Japão: 2
Suiça: 2
Brasil: 2
Mali: 2
Gana: 1
Camarões: 1
França: 1
Noruega: 1
Alemanha: 1
Croácia: 1
Coréia do Sul: 1
Bósnia: 1
Hungria: 1