Você me disse que estava atrás da porta

Marcus Arboés
2 min readMar 21, 2019

--

Saí tarde da universidade na segunda-feira. Tava doido para falar contigo.

A janela do ônibus, marcada por uma chuva passada, me fazia pensar em como tudo tinha dado certo. Você ia adorar saber do meu dia, como sempre. Você ia amar.

Em casa, bem, larguei a bolsa, deixei o notebook ligando e entrei debaixo do chuveiro para pensar. Pensei sorrindo em você. Esperei até a hora de sempre. A hora de você me ligar.

Nada é como a hora em que você me ligava. Quando a gente ria junto das nossas piadas, aquelas só nossas, tipo a do Boi-tatá. Quando um tirava sarro da internet do outro, do sotaque do outro…

Quando dava para ouvir um pouquinho da tua voz.

Tua voz. Saí do banho doido pra ouvi-la outra vez. Eu passava a aula esperando esse momento. Ninguém tirava o sorriso do meu rosto, por eu saber que você estaria ali.

Peguei meu celular. Tinham ligações perdidas. Parecia que estava tudo errado e sim, estava.

Dali em diante tudo desabou. Não falo só da falta que sinto, falo da impotência. Falo de não poder cuidar de você nesse momento. Logo naquele momento, em que eu estava te ajudando tanto e vice-versa.

A gente sabia que uma hora aconteceria. Mas eu não esperava e muito menos queria que fosse do jeito que foi.

A falta dói.

O dia seguinte foi estranho. A ânsia de falar contigo virou um amontoado de sentimentos pesados. Preocupação, principalmente a preocupação.

Entrei no prédio de aula da Universidade com dor no peito. Nem simpático consegui ser. Tava doendo. Você não saía da minha cabeça. Como sempre, claro, mas dessa vez eu estava triste.

Cheguei em casa, mal, nem vi onde larguei a bolsa, ignorei meu notebook e entrei de baixo do chuveiro de roupa e tudo para tentar não pensar. Mas eu não consegui. Pensei, chorei, deixei um pouco da dor sair de mim.

Só um pouco.

Não falei com você, mas tentei ao máximo saber como você estava. Não consegui.

Não conseguir me machuca. Teu adeus foi o que mais mexeu comigo até hoje.

Só consigo pensar que nossos planos não vão sair do papel, e que o papel já se molhou o suficiente com lágrimas dos dois. O cheiro do cabelo que você tanto falava, eu não vou sentir. As praias sobre as quais eu contava, tu não vai ver.

As bocas prometidas não vão ser dadas.

Eu abri a porta do quarto. Você realmente não estava lá.

Força, menina. Tu é maior que isso tudo.

--

--

Marcus Arboés
Marcus Arboés

Written by Marcus Arboés

Aqui é um pouco de mim, sem amarras. Falo do que me empolga.

No responses yet